Consideradas doenças tropicais negligenciadas pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas/OMS), chikungunya e zika são arboviroses causadas respectivamente por vírus das famílias Togaviridae e Flaviviridae e transmitidas por mosquitos do gênero Aedes. Na última década, os números de casos das duas doenças aumentaram em todo o mundo e se expandiram geograficamente – chikungunya já foi relatada em 116 países, e zika, em 92, de acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), principal agência de saúde dos Estados Unidos. Ambas somam mais de 8 milhões de casos, que, por conta da subnotificação, podem chegar a 100 milhões.
No Brasil, as áreas de maior risco de infecção se localizaram inicialmente na região Nordeste. Entre 2018 e 2021, data inicial do estudo atual, o foco se deslocou para o Centro-Oeste e para os litorais de São Paulo e do Rio de Janeiro, antes de recrudescer novamente no Nordeste, de 2019 a 2021.
“Chikungunya e zika demonstraram respectivamente tendências decrescentes de 13% e 40% no Brasil como um todo entre 2018 e 2021; entretanto, 85% e 57% dos aglomerados [áreas de maior concentração] encontrados mostraram uma tendência crescente, com provável crescimento anual entre 0,85% e 96,56% para chikungunya e entre 2,77% e 53,03% para zika.”
Próximos passos
“Por se tratar de doenças que envolvem os mesmos vetores, há certas semelhanças e, em teoria, elas deveriam acontecer nos mesmos locais, mas não observamos essa sobreposição perfeita no espaço e no tempo”, diz Palasio.
Uma das hipóteses para isso estaria relacionada aos fatores socioeconômicos, ambientais e climáticos. Neste primeiro trabalho foram utilizados dados do censo de 2010. Por isso, um dos próximos passos é a atualização desse cenário, de acordo com as novas informações divulgadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2022.
“Além disso, queremos realizar agora uma análise mais complexa, levando em conta, ao mesmo tempo e não separadamente como aconteceu desta vez, os fatores socioeconômicos e climáticos [temperatura e precipitação] em uma análise espaço-temporal”, conta Palasio.
Outro ponto de atenção deve ser observar a coocorrência das duas doenças, se elas se sobrepõem, e modelar essas informações com os cenários de mudanças climáticas futuras, tanto num cenário otimista quanto num pessimista, relacionados à emissão de gases do efeito estufa.
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